RIBEIRINHOS SERÃO ENGOLIDOS: suposto crime ambiental e social provocado por entidade que deveria conservar a natureza

Walney Rosa
fevereiro 25, 2021 - 4 anos atrás

Criado há 24 anos, com o objetivo de promover a educação ambiental, a conservação da natureza, o turismo responsável e a ação social no Pantanal de Mato Grosso, o polo socioambiental Sesc Pantanal, com hotel Sesc localizado na região de Porto Cercado no município de Poconé está sendo denunciado ao Ministério Público Estadual por suposto crime ambiental. O caso poderá ser acompanhado pelo promotor Mário Anthero Silveira de Souza ou promotor Adalberto Ferreira de Souza Junior de Poconé.

A degradação ambiental ocorreu no Rio Cuiabá, metros acima do Hotel Sesc Pantanal, atingindo moradores ribeirinhos e suas propriedades. Por iniciativa do polo socioambiental Sesc Pantanal foram instalados enormes placas de aço na margem direita do rio, com cravação de estacas-prancha, logo na frente das residências dos vizinhos ribeirinhos.

A iniciativa potencializou o processo erosivo da margem do Rio Cuiabá; o que a natureza levou centenas de anos para criar o Sesc provocou sua mutação em menos de quatro anos.

Essa intervenção no rio, com autorização dos órgãos ambientais (se não houve autorização houve omissão) resultou em grandes problemas sem precedentes.

Visivelmente foi desviado o leito do rio provocando assoreamento, foi alterado o posicionamento do canal navegável do rio. Hoje as placas estão no meio do rio comprometendo tráfego aquaviário.

Fato curioso que somente os vizinhos do Hotel Sesc Pantanal estão sendo prejudicados, afinal o rio avançou mais de 100 metros em direção as casas, levando mangueiras, tamarineiros e árvores centenárias e agora a rio bate a porta dos ribeirinhos convidando-os a irem embora.

O local é muito conhecido em toda região do Vale do Rio Cuiabá, trata-se do “Porto de Tutico”, onde as pessoas simples de Poconé e região iam desfrutar da barranca do Rio Cuiabá e de pescaria nos períodos permitidos. Os moradores do local sobreviviam também do turismo durante todo o ano, tanto na alta como na baixa temporada. Ali iam famílias inteiras, grupos de amigos que pagavam uma taxa simbólica para desfrutar do local e os ribeirinhos que ali moravam aproveitavam para vender almoço pantaneiro: peixada, galinha com arroz e outros pratos (havendo reservas).

Hoje isso não acontece: os quase 100 metros de largura de praia (ou barranca) não existem mais, as árvores foram tombadas, uma a uma pela força do desvio do rio, o leito avançou e engoliu história, cultura e sonhos; não só dos ribeirinhos, mas de toda uma sociedade.

“ ‘Siminino’ não perde seu tempo tirano foto. E não vem menti pra mim que vai acontecer alguma coisa porque não vai. Aqui já veio fiscal de tudo quanto é tipo, político de todas as marcas, tudo mentiroso e malandro igual ao povo do Sesc. Não tenho esperança, só tenho vergonha. Vamos perder tudo…” Uma das vitimas, idosa, se emociona e para de conversar com nossa reportagem.

“A onde que a Marinha e a Sema vai defender nós pobres, contra o Sesc; no hotel eles toma café, almoça, janta e dorme, disque trabalhando? Virou tudo um conluio. Mas por Nosso Senhor Jesus Cristo, se em Poconé não haver justiça, da justiça de Deus ninguém esconde.” Desabafou um dos ribeirinhos por telefone a nossa reportagem.

Até o momento, a reportagem não tem conhecimento se alguma autoridade ou entidade de proteção ambiental tenha ouvido os moradores, vitimas ou autuado o Sesc Pantanal, por crime ambiental, crime social ou administrativamente ou  por degradação de APP (Área de Preservação Permanente), que teria pena de detenção de um a três anos de prisão além de multa.

O OUTRO LADO:

O Sesc Pantanal manifestou que : “Recomendações da Defesa Civil, foram iniciados e intensificados estudos técnicos para viabilizar a análise e escolha da melhor alternativa técnica de engenharia para contenção do processo erosivo e/ou proteção da margem do Rio Cuiabá.

Após inúmeros estudos e projetos técnicos, o Sesc Pantanal executou a intervenção às margens do Rio Cuiabá, com objetivo de neutralizar os avanços no processo erosivo”.

Veja nota na integra no linque: https://matogrossototal.com.br/sesc-pantanal-nota-de-esclarecimento-sobre-reportagem/

SEMA:

A Secretaria de Estado e Meio Ambiente (Sema-MT) foi interpelada, mas não quis se manifestar a respeito.

DEFESA CIVIL:

Depois de vários contatos infrutíferos com a Defesa Civil, contactamos a Coordenadoria de Jornalismo da Secom-MT, que assumiu dar-nos uma resposta, porém aguardamos por uma semana e até o fechamento desta reportagem não se manifestou.

MARINHA DO BRASIL:

A nossa reportagem entrou em contato com a Marinha pelo telefone 3623-6724, em seguida fomos transferidos para a oficial de comunicação que se identificou como Tenente Ester, nos repassando um numero de celular para uma conversa pelo WhastsApp, depois de enviados os questionamentos e troca de mensagens de áudio e texto, a oficial questionou se em algum momento os proprietários ribeirinhos estariam reclamando, deixando subentendido que se não houver reclamação dos prejudicados “supostamente não haveria intervenção da Marinha”, por fim alegou que o Comandante estaria na região norte realizando uma missão de reconhecimento e: “Este tipo de resposta, a Marinha deve manifestar através de um pedido formal. Enviar para o e-mail [email protected]; um ofício com todos os questionamentos que tenha. Assim que recebermos iremos respondê-lo”.

Assim sendo a redação decidiu publicar a reportagem deixando aberto qualquer manifestação futura por parte da Marinha.

DOIS PESOS DUAS MEDIDAS

Em 2011 a SEMA exigiu que a Prefeitura de Poconé executasse um Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD) justamente num Porto Público, onde atracava grandes e pequenas embarcações. É como se exigisse que a Prefeitura de Poconé fizesse recuperação em sua avenida principal exigindo que ali não transitasse mais veículos.

Mas foi isso que ocorreu: Barcos não poderiam atracar em um porto público, segundo a SEMA.

No entanto se um problema ambiental “no porto público” incomodou a Sema, o caso das placas no meio do Rio Cuiabá que desviou seu leito, até agora não incomodou o órgão ambiental do estado. Concluímos que se a partir de 2011 os vizinhos do lado esquerdo do Hotel Sesc Pantanal, pescadores e ribeirinhos que usavam o Porto Público  do Rio Cuiabá, bem na entrada do Hotel, foram convidados a desocupar o local; muito em breve também não haverá vizinhos do lado direito, que é o caso da região do “Porto de Tutico”.

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As opiniões e ideias expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem necessariamente a posição do Mato Grosso Total.

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