ESPAÇO CULTURAL: Entrevista – como foi o ressurgimento da Cavalhada em Poconé em 1991

Walney Rosa
junho 15, 2024 - 5 meses atrás

O ESPAÇO CULTURAL – Cavalhada de Poconé, é um oferecimento POSTO SANTA RITA Localizado na Av. Aníbal de Toledo, entrada da cidade – Poconé-MT / Fone: 65 3345-1064 ou 65 6.9925-2542

A Cavalhada se fixou em Poconé devido à religiosidade da população e a cultura local de louvor aos santos. Apesar da devoção a manifestação se ausentou do cenário cultural mato-grossense por 35 anos, de 1956 a 1991, quando foi revivida a partir organização da própria comunidade, que decidiu retomar o festejo.

No ano de 2016, o jornalista Walney Rosa entrevistou um dos antigos cavaleiros da Cavalhada de Poconé, o pecuarista e médico veterinário Joaquim Augusto da Silva, na época da retomada da Cavalhada tinha 48 anos e foi convidado pelos festeiros de 1991 para contribuir com a retomada dos treinos.

Naquele ano, em 1991, eram Festeiros o Rei Benedito Afrânio da Silva Campos e a Rainha Nilza Ferreira Figueiredo e Capitão do Mastro Jones Falcão de Arruda esposo de Mônica Maria Dorileo Falcão.

Depois de décadas sem realizar a Cavalhada foi muito difícil sua retomada porque faltavam documentos orientativos para os novos treinos.

Joaquim lembrou de alguns nomes que contribuíram para contar como eram as antigas Cavalhadas e como poderiam ser reavivadas, foram: Giovane Nunes Rondon, Antônio Vaz Guimarães (Pitote), Iris de Arruda, Antônio de Aquino, ao lado de Zelito Dorileo e Valter Godofredo e ainda Pedro Otaviano.

Em 1991 Com a escolha dos Festeiros: Rei, Rainha e Capitão do Mastro, seus companheiros: Celso Figueiredo, esposo de Nilza; a escritora e poetiza Ângela Beatriz na época esposa de Afrânio; e Mônica esposa de Jones; mobilizaram a sociedade para fomentar o retorno da Cavalhada.

Para realização dos Festejos Afrânio propôs a Nilza a revitalização e reedição da Cavalhada, foi quando em uma reunião da Irmandade de São Benedito alguém exclamou; “Nilza você é mais louca que Afrânio, ele por tentar realizar a cavalhada novamente e você por dar ouvido a ele”. Desde então todos foram taxados de “loucos”, até mesmo os velhos cavaleiros que foram convidados a ensaiar a nova edição da Cavalhada com a organização do Capitão do Mastro Jones e sua esposa Mônica.

“Precisávamos colocar frente a frente, os antigos cavaleiros, que já não corriam há mais de 35 anos, para que estes ensinassem os novos cavaleiros. Com isso vimos que já haviam passado 10 dias de treinos e eram só brigas e ninguém entendia nada. Foi quando decidi que eu mesmo ouviria as orientações dos antigos cavaleiros, criando um croqui com marcas e as primeiras regras da Cavalhada e os antigos cavaleiros não participariam dos ensaios, com exceção dos mais jovens que eram Zelito Dorileo, Valter Godofredo e Pedro Otaviano; assim fluíram os ensaios e atingindo nossos objetivos”, declarou Joaquim.

Já assistindo alguns ensaios, os jovens que sempre ouviram causos sobre as últimas Cavalhadas que aconteciam no centro de Poconé em frente à Igreja, tendo em vista não existir as praças, passaram a nutrir curiosidade e saudosismo sem ao menos ter assistido ao enfrentamento entre Mouros e Cristãos, apenas de ouvir falar.

A Arena da Cavalhada foi instalada no antigo Parque de Exposição, próximo ao Rio Bento Gomes (hoje sede da IFMT/NAPAN), naquele ano a Exposição Agropecuária ainda era realizada naquele local, tendo em vista a facilidade para tratamento dos animais devido às baias e as instalações do parque. O mesmo que acontece hoje no Clube Cidade Rosa (CCR) que recebe a Exposição Agropecuária e Semana do Cavalo Pantaneiro.

De outro lado a escritora Ângela Beatriz, foi em busca do passado histórico da Cavalhada, com a facilidade para escrever, passou tudo para o papel fazendo deste documento a diretriz para realização da Cavalhada. Afrânio e Nilza apoiados pelo Capitão do Mastro Jones e esposa Mônica por sua vez convenceram as famílias a apoiar seus cavaleiros e descendentes de cavaleiros a correr a Cavalhada.

“Virou festa a mobilização das famílias em Poconé durante as prévias da Cavalhada. As costureiras confeccionando as roupas. Os criadores tratando e treinando os animais. Tudo contribuiu para esse achado histórico, um reencontro do pantaneiro, com sua própria essência que é a Cavalhada”, destacam.

Entre as essências está o próprio cavalo pantaneiro que passou a ser ainda mais valorizado. Segundo nosso entrevistado é fundamental a presença do Cavalo Pantaneiro para a existência da Cavalhada. Senhor Joaquim sempre acreditou que os cavalos pantaneiros são os ideais pra execução das provas frente a docilidade do animal e a cadência de sua marcha executada ao som da batida do caixeiro.

“É verdadeira magia o domínio dos cavaleiros sobre o lombo do cavalo pantaneiro marchando ao som das batidas em ritmo de batalha”, declarou Joaquim na época da entrevista.

A partir de 1991, com o retorno da Cavalhada aos Festejos de São Benedito a festa aumenta à cada ano. Hoje a Cavalhada é um entre os símbolos culturais de Mato Grosso e do Brasil.

Depois de correr muitos anos Joaquim passou seu posto de cavaleiro para outra pessoa. Quem substitui foi o sobrinho Aluísio Nunes Rondon, que hoje não corre mais deixando outro sucessor.

Na época da entrevista Joaquim apresentou sua lança e a última argolinha retirada em uma das provas hípicas.

Questionado se a Cavalhada tem o reconhecimento que merece, Joaquim afirma: “A Cavalhada é respeitada, porem deve ser mais divulgada, é fato que recebemos recursos, no entanto é uma burocracia que engessa os realizadores da festa”, afirmou.

Para ele: “A Cavalhada está em seu linear, precisamos mais seriedade, apesar de ser um teatro há necessidade de mais disciplina por parte dos novos Cavaleiros sendo submissos aos mais antigos cavaleiros”, afirmou.

Entre os documentos guardados estava o histórico da Cavalhada preservado por Joaquim, exemplar datilografado sobre o olhar da Professora Antônia Augusta leite, e supervisionado pelo saudoso Padre Joaquim Tebar, senhor Giovane Nunes Rondon, Ângela Oneide Caporossi (atual membro da ACADEPAN) e a esposa de Joaquim a senhora Maria José Alves Silva.

Com lágrimas nos olhos, com documentos originais, livros antigos e papéis com desenhos de mapas orientativos nas mãos, Joaquim provou ao jornalista Walney Rosa três coisas: a primeira que foi difícil a retomada da Cavalhada, a segunda que os documentos são as provas de sua participação fundamental e pôr fim a terceira, Joaquim Augusto da Silva, sempre teve paixão e devoção pela Cavalhada e merece nosso reconhecimento.

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