Falta de diagnóstico do transtorno na infância dificulta o início do tratamento, trazendo péssimas repercussões para a vida adulta

Provavelmente, quando você ouve falar no Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), pensa em crianças afetadas por essa condição. Hoje, os avanços nos estudos do transtorno e o maior acesso aos atendimentos psiquiátricos e psicológicos facilitaram o diagnóstico precoce. Entretanto, como esse é um movimento recente, existem muitos adultos que sofrem com o TDAH, mas nem mesmo sabem disso.

Por isso, em muitos casos, os adultos acabam procurando ajuda com um psiquiatra especialista em depressão para tentar resolver as consequências de ser alguém com TDAH, mas sem tratamento. O transtorno acaba sendo a fonte de vários problemas pessoais do indivíduo, afetando não apenas a saúde mental (inclusive, com o desenvolvimento da depressão), mas também a carreira profissional e as relações pessoais. Neste texto, entenda melhor sobre o transtorno e quais são os principais desafios de identificá-lo em adultos.

TDAH em adultos: mais comum do que você imagina

O TDAH geralmente está muito associado a crianças e adolescentes, mas o que muitos não sabem é que esse transtorno também afeta os adultos. Segundo dados da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), existem cerca de 2 milhões de indivíduos com TDAH no país. 

Esse transtorno de desenvolvimento é caracterizado por desatenção, agitação e impulsividade. Nos últimos anos, aumentou-se a realização de diagnósticos em adultos, tanto que, mesmo sendo um transtorno relacionado às crianças, dados indicam que, hoje, cerca de 2,8% dos adultos no mundo todo têm o transtorno, contra 2,2% das crianças. Outro dado relevante é que dois terços das crianças que têm TDAH manifestam os sintomas na vida adulta.

Os sinais do TDAH vão se diferenciando ao longo dos anos, mas tanto em crianças quanto em adultos três características se repetem: impulsividade, hiperatividade e desatenção. No caso dos adultos, 75% deles apresentam ainda outra comorbidade, sendo que as mais comuns são distúrbio do sono e compulsão alimentar (algo que também ocorre em crianças), além de ansiedade, depressão, alcoolismo e dependência química.

O maior desafio dessa área é justamente realizar o diagnóstico. Em adultos, o TDAH é uma extensão do problema em crianças, mas com um agravante: boa parte dos pacientes não foi diagnosticada com o transtorno na infância. A falta desse diagnóstico no início de vida ocorre por uma série de fatores, desde falta de atendimento médico até a própria dificuldade em detectar o transtorno e compreendê-lo.

Isso porque as condições psiquiátricas são baseadas na avaliação clínica, não dependendo do diagnóstico definido por testes laboratoriais. Avaliar os sintomas do TDAH torna-se mais difícil porque o transtorno é estigmatizado, com o paciente sendo visto como alguém bagunceiro, desagradável e preguiçoso.

A falta de diagnóstico prejudica o início do tratamento e, com isso, o adulto sofre em todas as áreas da vida. Profissionalmente, sua vida é marcada por instabilidade e maior índice de desemprego. A falta de sucesso ocorre por vários motivos, como ausência de foco e atenção, rendimento abaixo da capacidade intelectual, dificuldade em seguir rotinas, planejamentos e de executar tarefas.

As relações sociais e afetivas também são prejudicadas. Falta de aptidão para gerenciar as tarefas e responsabilidades da casa, assim como queixas de desorganização, são fatores que colaboram para a separação do cônjuge. Com os amigos, as reclamações giram em torno das mudanças súbitas de humor, inabilidade para escutar e esperar a vez de falar e falta de atenção.

O resultado disso é que o paciente acaba entrando em um ciclo negativo, sendo refém de sentimentos como fracasso e baixa autoestima. Dessa forma, ele se torna muito mais suscetível para desenvolver quadros de ansiedade, bipolaridade, depressão, alcoolismo, dependência química e distúrbio do sono.

Por isso, ao perceber que sua rotina e sintomas batem com os descritos, é importante procurar um profissional da área para realizar o diagnóstico. Quando ele acontece, o tratamento do TDAH pode ser feito com o uso de remédio associado a terapia e treinamentos para ajudar a pessoa a ter melhor organização nas tarefas cotidianas.

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