Por que as grandes empresas de telecomunicações não estão nas pequenas cidades?

março 15, 2022 - 3 anos atrás

Com o aumento da demanda por serviços de telecomunicação nos últimos anos, condição essa que foi acelerada com a pandemia de coronavírus, ficou nítido como ainda há discrepância no atendimento das grandes empresas de telecom de acordo com o porte das cidades.

Um estudo da Anatel aponta que cerca de 79% dos municípios já recebem sinal de banda larga via fibra ótica, com uma expansão de 9%, apenas em 2020. Porém, conforme outro relatório divulgado pelo órgão, mais de 65% das cidades com menos de 20 mil habitantes são atendidas por operadoras locais. Isso demonstra a falta de alcance que as grandes empresas têm nas pequenas regiões, diminuindo as opções dos moradores.

Pensando na porcentagem de cidades atendidas pelas grandes e pequenas operadoras, outro detalhe presente no estudo chama atenção. São mais de 4.403 municípios recebendo sinal de internet, sendo que 3.777 são subsidiados por operadoras de pequeno porte. Aprofundando mais, 1.108 são exclusivamente atendidos por esses pequenos provedores, sem a opção de se associar às grandes marcas. Juntos, os pequenos provedores possuem mais assinantes que as empresas de grande porte, como Claro, Oi, Vivo e TIM. Eis que essa situação levanta uma discussão do porquê das grandes empresas do segmento de telecomunicações não abrangem esses territórios. E a explicação não poderia ser mais simples: o investimento nem sempre compensa, devido ao montante que precisaria ser investido e o retorno em curto e longo prazo ser baixo.

A queda das assinaturas nas empresas de grande porte é um reflexo nas pequenas cidades

Os municípios com menos de 20 mil habitantes, que são atendidos pelas grandes empresas de telecomunicações, vão na contramão da implantação do possível monopólio de mercado que elas poderiam promover. Afinal, seria relativamente simples para essas organizações abarcar toda a demanda dessas cidades, e recuperar o marketshare. Mas, o mesmo estudo da Anatel demonstra que há uma queda acentuada no número de assinaturas de serviços de internet e telefonia das empresas com mais representatividade. Especialmente Sky, Oi e Vivo estão perdendo clientes em uma velocidade que supera a da expansão do alcance de sua rede de fibra ótica.

Dessas empresas nacionalmente conhecidas, a Claro foi a que apresentou números mais otimistas. Dentre os municípios de pequeno porte, há uma clara preferência pelos serviços dessa operadora, que se destaca pelos bons planos e preços acessíveis. O crescimento de 0,7% da Claro pode parecer pequeno, mas seu cenário é bem melhor do que o dos concorrentes. Entretanto, o que realmente deixa em alerta é a expansão das empresas regionais. Juntas, elas apresentam crescimento de 8,9% tendo uma significativa fatia de mercado.

As PPPs e o seu impacto na infraestrutura das telecomunicações

As empresas regionais ocupam um espaço que, durante anos, ficou vazio e estagnado, devido à incapacidade das grandes operadoras de investirem para se inserirem nas cidades pequenas. Elas encontraram, portanto, uma oportunidade de negócio lucrativa e agora são conhecidas como “prestadoras de pequeno porte” ou PPP. Isso porque, elas funcionam como uma intermediadora, comprando o sinal das grandes operadoras por um valor de atacado e revendendo com a qualidade já consolidada por esses gigantes da telecom. E os resultados são bastante expressivos.

Um exemplo de empresa que vem se destacando no mercado brasileiro, que iniciou com a configuração de PPP e hoje já abrange grande parte do país, é a Americanet. Atualmente, ela se encontra em cerca de 250 municípios, e é uma distribuidora do sinal de internet da TIM. A Americanet iniciou os seus serviços de telefonia, internet móvel e banda larga focando no mercado corporativo das pequenas cidades. Seus planos eram voltados, basicamente, para a oferta de internet e ligações para as empresas, com destaque para os “combos”. Com a sua consolidação do setor, diversas empresas conseguiram abranger o mercado a ponto de conseguirem expandir suas atuações. Agora, além de oferecer serviços com viés corporativo, a empresa citada tem, também, os seus planos residenciais. A infraestrutura de atendimento, uma rede bem conectada de clientes e um serviço de qualidade, torna a PPP a alternativa para maximizar a conectividade dos municípios brasileiros. Essas empresas, inclusive, são o foco de investidores nacionais que buscam por boas oportunidades de negócios. Afinal, há uma expectativa de aumento nas novas assinaturas, devido à implementação do 5G no país.

A expansão da rede 5G pode consolidar essa situação

Em novembro de 2021 se encerrou o leilão da rede 5G, que promete aumentar a capacidade de transmissão de dados móveis e tornar as conexões de internet ainda mais rápidas e integradas. Claro, Vivo e TIM se tornaram as donas da faixa mais cobiçada de rede. Para o arremate das áreas, além de garantir cifras milionárias para o país, essas companhias precisaram se comprometer em aumentar o alcance da internet 5G para áreas diversas, com um cronograma rígido que deve abarcar, inclusive, as cidades com menos de 20 mil habitantes.

Para tornar a operação financeiramente vantajosa, essas empresas de grande porte continuarão a se associar com as PPPs, em um processo de “ganha-ganha”: eles dividem os custos da infraestrutura e mantém a participação no mercado. São essas parcerias que deverão acelerar a implantação do 5G em áreas mais remotas e em localidades de pouco interesse para as grandes operadoras, consolidando, assim, a hegemonia das prestadoras de pequeno porte nessas regiões. Dessa forma, é possível perceber que a tendência de crescimento das pequenas empresas locais deve continuar e, isso beneficiará muitos os moradores da região. Isso porque, além de conectividade, vão possuir a oportunidade de novos e melhores empregos. 

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As opiniões e ideias expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem necessariamente a posição do Mato Grosso Total.

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